A história do Brasil é marcada pelo grande fluxo migratório interno, sobretudo das regiões Norte e Nordeste para os grandes centros urbanos, principalmente da região Sudeste. O Ceará, estado situado na área do polígono das secas, tem sua história marcada pela difícil condição climática à qual grande parte da sua população está submetida e pelas estratégias de sobrevivência desenvolvidas por esta para resistir aos impactos causados pelas variações climáticas, principalmente no sertão semi-árido.
Apresenta-se nesta pesquisa uma proposta de investigação sobre emigração, destacando a importância do estudo da afetividade para a compreensão das relações sociais. A pesquisa teve como objetivo investigar os afetos que marcam a relação de jovens do sertão semi-árido nordestino com seu entorno e com sua decisão entre emigrar ou não, através do estudo da afetividade, que pode nos mostrar, segundo Sawaia (1999), uma nova forma de compreensão da desigualdade social e da dialética inclusão/exclusão social. A pesquisa foi realizada em três escolas públicas localizadas na sede do município de Tauá-CE. A amostra dos sujeitos da pesquisa se constituiu de jovens que estivessem cursando o último ano do ensino médio, que fossem maiores de 18 anos, devendo também ser composta de moradores tanto da sede como das comunidades rurais do município e de ambos os sexos. Para a apreensão dos afetos, foi utilizado o método dos mapas afetivos (Bomfim, 2003) e, posteriormente, para um aprofundamento de questões relevantes ao tema emigração, captadas através dos mapas afetivos, utilizou-se discussão em grupos focais, o que permitiu conhecer diversos pontos de vista sobre o assunto pesquisado, oferecendo, assim, uma importante contribuição ao trabalho qualitativo. A análise dos dados foi feita de forma qualitativa através da análise de conteúdo e contou com uma análise estatística complementar. Observou-se que a decisão de emigrar sofre a influência de fatores bastante subjetivos, sendo a relação afetiva com a cidade importante nessa decisão, pois as pessoas que apresentam uma estima negativa em relação à sua comunidade estão mais propensas à emigração. Entre os grupos, notou-se que as mulheres e os jovens maiores de 21 anos têm maior tendência à migração. Em relação às oportunidades de trabalho e estudo, fatores importantes para a determinação entre partir ou ficar, mostrou-se clara a situação de opressão em que vive parte dos jovens que trabalham e as poucas oportunidades para os que pretendem continuar os estudos. Tais fatores foram identificados como as principais causas que estimulam os deslocamentos dos jovens entrevistados. A importância do estudo se deve ao fato de que, através da compreensão de como a juventude é afetada emocionalmente pelas contingências sociais, pode-se inferir sobre as ações éticas dos jovens do sertão semi-árido, ações estas que ocasionam a manutenção da realidade existente ou a transformação da mesma.
Palavras-chave: migração, semi-árido, jovens, afetividade
Referência: FERREIRA, Karla Patrícia Martins. Ficar ou partir?: afetividade e migração de jovens do sertão semi-árido cearense. 2006. 176 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Federal do Ceará, Departamento de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Fortaleza-CE, 2006.