Esta dissertação investiga a interação entre as incertezas do contexto socioeconômico, os labirintos decorrentes dos processos de transição para a vida adulta e as ausências de acesso à estrutura de oportunidades na inserção social de jovens que não trabalham nem estudam, frequentemente identificados como nem-nem. O objetivo deste trabalho é problematizar até que ponto a categoria nem-nem abarca, de fato, uma população em risco social.
As desigualdades estruturais que levam os jovens a crescentes dificuldades para incorporarem- se ao mercado de trabalho, a particular concentração de pobreza nesse segmento da população, os atrasos e desigualdades educacionais, a divisão sexual do trabalho e as desigualdades de gênero, assim como as barreiras históricas de mobilidade social, se contam entre alguns fatores que devem ser levados em consideração para definir e analisar a questão nem-nem. A revisão crítica de literatura problematiza os conceitos de juventude, curso de vida e transição para a vida adulta e discute como esses construtos são auxiliares para a interpretação da questão nem-nem. Os resultados discutem, por meio de estatística descritiva, com base nos dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio – PNAD – 2014, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, características da população jovem brasileira, de 15 a 29 anos, segundo categoria de atividade – só estuda, só trabalha, trabalha e estuda, não trabalha e nem estuda. Os resultados evidenciam, por intermédio de análise de correspondência múltipla, a heterogeneidade na composição da categoria nem- nem, o que permite identificar subgrupos com distintos níveis de vulnerabilidade. Confirmando as hipóteses levantadas ao longo da pesquisa, constatou-se que, pelo menos por uma proporção significativa de casos, o status nem-nem não é um problema em si, talvez nem mesmo a manifestação de outros problemas, e também não é necessariamente uma condição permanente. Ademais, existe uma parcela de jovens nem-nem que está sob esse status, devido a questões estruturais de classe e da desigualdade social e são os mais expostos à vulnerabilidade. Outra constatação é de que existe um grande contingente de jovens nem- nem que são mulheres e que estão em suas casas responsáveis pelo trabalho reprodutivo, no cuidado de afazeres domésticos e de pessoas dependentes. Os resultados obtidos contrariam a presunção de ociosidade das pessoas que não estão na escola ou no mercado de trabalho, em particular, as jovens nem-nem, longe de “não fazer nada”, dedicam muitas horas às formas de trabalho “invisíveis”. Conclui-se que a composição da categoria nem-nem é marcada fortemente pela heterogeneidade, representada em um grupo populacional influenciado por questões estruturais de gênero, classe e raça.
Palavras-chave: Juventude, Nem-nem, Educação, Trabalho, Família, Desigualdades, Transição para vida adulta.
Referência: DIAS, Tamille Sales. Entre ausências, incertezas e labirintos: a inserção social de jovens que não trabalham nem estudam no Brasil. 2016. 132 f., il. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional)—Universidade de Brasília, Brasília, 2016.